Baseada num conto popular mexicano, “A Pérola” constitui uma inesquecível parábola poética sobre as grandezas e as misérias do mundo tão contraditório em que vivemos. É, assim, a história comovente de uma pérola enorme, de como foi descoberta e de como se perdeu… levando com ela os sonhos bons e maus que representava, mas é também a história de uma família e da solidariedade especial entre uma mulher, um pobre pescador índio e o filho de ambos.
ISBN: 9789897110023 – Livros do Brasil / 2011 – 104 páginas
A Pérola é um breve conto, super intrigante e uma narrativa que representa uma parábola para a vida de todos nós (como o próprio autor menciona no início do texto). Conta-nos a história de um casal indígena que sobrevive da pesca para criar uma vida e vive de forma simples e despretensiosa com especial atenção às tradições da sua cultura, a história de um casal que encontrou a sorte e que se viu empurrado para uma realidade com a qual não conseguiu lidar. A aldeia onde vivem Kino e Juana é um círculo muito fechado que se mantém distanciada da cidade e dos habitantes que lá constroem as suas vidas tão diferentes desta comunidade índia. Por isso mesmo, a boa-nova que Kino acabou de encontrar a maior pérola já vista nas redondezas não demora muito tempo a espalhar-se pelos cantos da população. Toda a gente quer saber o que Kino irá fazer agora que é um homem imaginavelmente rico. As ambições de Kino são nobres mas ainda assim, esta pérola acaba por trazer a desgraça à vida do casal.
Kino, não habituado às atenções começa a ter receio que lhe roubem a sua pérola antes de a conseguir vender e acaba por se tornar desconfiado de tudo o que rodeia – até da própria mulher. Até que ponto a vida desta pequena família muda para protegerem a nova vida que podem conquistar através da descoberta desta pérola? Será a pérola um presente abençoado ou uma maldição disfarçada?
Esta novela, em tão poucas páginas, acaba por nos fazer reflectir até que ponto é importante e fundamental defender a sorte inesperada, mesmo que esta implique a destruição de tudo aquilo que conhecemos: as nossas amizades, a confiança nas pessoas que nos rodeiam e até o nosso lar e a vida que até aí conhecíamos. Faz-nos pensar em como o carácter pode ser falível, em quanto uma pessoa pode mudar se deixar que a riqueza o transforme de uma pessoa digna para um monstro sem escrúpulos. E ainda mais, faz-nos pensar na grangrena que o capital instala nas mentes humanas, naquele sussurro tentador da prosperidade e do poder. Como corrói as entranhas morais das nossas personalidades. Como nos transforma em seres primitivos, desesperados por proteger esse poder que é como uma droga.
Adorei esta narrativa de John Steinbeck que é tão provocadora, tão desestabilizadora e com um impacto inegável.
(Obrigada à Catarina pela sua belíssima recomendação!)
For it it said that humans are never satisfied, that you give them one thing and they want something more. And this is said with disparagement, whereas it is one of the greatest talents the species has and one that has made it superior to animals that are satisfied with what they have.